A onde esta o mal?
São alguns dos piores das gerações
do presente que estão nas escolas a preparar as gerações do futuro. O problema
não é novo, mas há anos que olhamos para o lado.
Quando se fala de avaliações, há
sempre um conjunto de almas que nos vem explicar o quanto elas são inúteis e
desnecessárias. Nesses casos, não há nada como esperar pelos resultados para
tirar as dúvidas. É que os resultados são como as imagens: valem mais do que
mil palavras. O caso da prova dos professores é, quanto a isso, exemplar.
Andou-se meses a discutir a prova
– com protestos, dezenas de artigos de jornal, providências cautelares e
conferências de imprensas. O que se dizia? Que os professores já tinham curso
superior e que por isso não deviam ser avaliados novamente. Que o conteúdo da
prova (compreensão de texto, lógica e cálculo) não tinha relação com a
actividade do professor. E que a prova, tal como estava desenhada, era tão
fácil que, mais do que uma avaliação, constituía um insulto e uma humilhação.
Ora, afinal, o que mostram os resultados? Que 14% reprovou. Que 63% cometeu
erros ortográficos (15% fez 5 ou mais erros). E que 67% cometeu erros de
pontuação. Sim, os resultados impressionam. Mas, infelizmente, não surpreendem.
Portugal tem maus professores. E
não é por acaso: é fácil tornar-se professor. Por um lado, veja-se que,
enquanto os cursos mais prestigiados mantêm notas de acesso ao ensino superior
bastante elevadas, nos cursos de ciências da educação acontece o inverso. Na
Universidade de Lisboa, por exemplo, o último aluno a ingressar no curso, em
2013, teve a classificação de 10,9. Ou seja, dito de forma clara: quem hoje vai
para professor não são os bons alunos. Por outro lado, quem hoje frequenta os
cursos da área da educação são, em média, os que têm níveis socioeconómicos
mais baixos e que, por isso, obtêm mais bolsas de acção social. De acordo com
os dados para o ano lectivo 2010/2011, 41% dos estudantes desta área de estudos
obteve bolsa. Foi a percentagem mais elevada entre todas as áreas de estudos –
ou seja, em nenhuma área há uma concentração tão grande de estudantes com baixo
nível socioeconómico.
Assim, em termos gerais, quem quer
ser professor são os piores alunos, os mais pobres e os menos cultos. Há
excepções, e ainda bem. Nos cursos e, sobretudo, nas escolas, onde a regra,
felizmente, ainda é a existência de muitos bons e dedicados professores. Mas o
perfil médio dos actuais cursos de ensino é este: são alguns dos piores das
gerações do presente que estão nas escolas a preparar as gerações do futuro.
Ora, isso é um problema. E não é
um problema novo, pois há anos que se faz de conta e se olha para o lado.
Também não é por acaso: é sabido que o país vive bloqueado por corporações que
lidam mal com o escrutínio e que só aprovam avaliações em que são todos
excelentes. Porque, acreditam, uma avaliação que diferencie não é avaliação – é
humilhação. Esta prova dos professores demonstrou-o, em três momentos.
Desde o início, com os protestos,
num vale tudo para boicotar a realização da prova. Depois, pela reacção
imediata dos representantes sindicais perante o elevado número de professores
com erros ortográficos e gramaticais, que se apressaram a inventar explicações.
Afinal, tudo se teria devido ao novo acordo ortográfico – não eram bem erros
ortográficos, eram apenas ortografias diferentes. Só que não foi isso que
aconteceu: o IAVE esclareceu que só 10% dos erros se deveram ao acordo
ortográfico. Isto é, 90% dos erros são mesmo erros.
Por fim, pela negação dos
problemas que surgiu na posição final da Fenprof, que veio explicar que não
importam erros, na medida em que não se reconhece autoridade aos correctores
para avaliar os professores. Pronto, assunto resolvido: para a Fenprof (e para
quem a ouve), dizer que um professor errou é ter má-fé. É estar com os maus. É
ser inimigo da escola pública.
Há, pois, perante tudo isto, uma
pergunta fundamental que temos de nos colocar: que professores queremos nas
nossas escolas? Andamos sempre reactivos, atrás da agenda mediática dos
sindicatos e da sua alegada luta pela escola pública. Mas, da perspectiva dos
alunos (os principais beneficiários da existência de bons professores ou as
principais vítimas dos maus) não há questão mais fundamental do que esta. Está,
portanto, na altura de a colocar